Elizabeth Holmes, ex-estrela do segmento de tecnologia do Vale do Silício, que foi condenada por fraude, agora enfrenta prazo para pagar a restituição. Em 30 de maio, o ex-chefe da Theranos precisará indenizar todas as vítimas do golpe da empresa. A dívida é de cerca de US$ 452 milhões. Na última terça-feira, o tribunal negou o último recurso de Holmes de aguardar o julgamento para iniciar a sentença.

Para quem não sabe, Holmes foi condenado a 11 anos de prisão por fraude contra o investidor de sua empresa de biotecnologia – Theranos. A empresa estava localizada no Vale do Silício e prometia uma revolução no diagnóstico de saúde.

Ela deveria ter começado a cumprir a pena em 27 de abril, mas seus advogados entraram com um recurso de última hora. Quanto ao valor que Holmes terá de pagar às vítimas, não sairá apenas do bolso dela. O segundo capanga de Theranos, Ramesh “Sunny” Balwani também é culpado e terá que participar da sentença. Juntos, os dois precisarão pagar os US$ 452 milhões aos que sofreram com a fraude.

A Ascensão de Elizabeth Holmes e Theranos

A Theranos foi fundada em 2003 com a promessa de “revolucionar o laboratório de diagnóstico testando o mercado”. Com apenas algumas gotas de sangue, a empresa afirmou ser capaz de realizar dezenas de exames (oficialmente 120, mas extraoficialmente o número pode chegar a 250), desde diabetes e colesterol até câncer.

Se uma coisa parece boa demais para ser verdade, geralmente é porque é. Ainda assim, todos compraram a ideia. Elizabeth Holmes, fundadora e CEO da Theranos, tornou-se uma estrela no Vale do Silício. Ela até foi chamada de”o próximo Steve Jobs”e tudo mais. Mas com o tempo, os resultados nunca se concretizaram e as perguntas se acumularam.

Hoje, além de falido, Holmes está banido do setor de saúde. O que diabos aconteceu?

A tecnologia Theranos era boa demais para ser verdade

Para entrar na história, temos que voltar a 2003. Uma jovem Elizabeth Holmes, 19 anos na época , fundou a Real-Time Cures, posteriormente renomeada como Theranos, após abandonar a Universidade de Stanford (decisão errada) para se formar em engenharia química.

A proposta da startup era simplificar o processo de coleta e realização de testes, com apenas algumas gotas do paciente em vez dos seis frascos tradicionais. Teria desenvolvido sua própria máquina de diagnóstico, chamada Edison. Esse hardware, em teoria, estava muito à frente dos concorrentes então (e agora) no mercado. A empresa representou o fim das agulhas, afinal, usaria apenas uma pequena picada como as que vemos nas máquinas de teste de colesterol/glicose.

A estrela do Vale do Silício que nunca existiu

O curioso dessa história é que Holmes foi rapidamente elevada ao status de estrela pop do Vale do Silício, mesmo não tendo muito o que mostrar. A Theranos levantou cerca de US$ 700 milhões em fundos de investimento ao longo dos anos para financiar a Edison e foi avaliada por analistas em impressionantes US$ 9 bilhões. E ao possuir 50% da empresa, Elizabeth Holmes tornou-se a bilionária mais jovem do mundo, com uma fortuna de US$ 4,5 bilhões.

Gizchina Notícias da semana

Mas o trem da alegria começou a descarrilar com o tempo. À medida que os reguladores exigiam mais dados sobre o desempenho e a qualidade dos testes de Edison, a Theranos tornou-se cada vez mais envolvida em controvérsias. Na verdade, ninguém jamais viu tal máquina; uma pesquisa de imagens no Google por “Edison Theranos” não retorna nada. Na verdade, apesar das alegações de Holmes e sua equipe de especialistas na época, tal dispositivo mal teria saído da prancheta, incapaz de corresponder às expectativas.

O primeiro laboratório de testes da startup foi inaugurado em 2013 , e as dúvidas começaram a aumentar. Desde então, o CMS (“Centers for Medicare & Medicaid Services”) não conseguiu sequer inspecionar tal máquina, o que levantou sérias suspeitas de que a empresa de Holmes não apenas oferecia testes realizados por equipamentos não homologados, mas também utilizando tecnologia de concorrentes. ao invés do seu próprio. Mas o pior (para o executivo) ainda estava por vir.

A queda de Theranos e Holmes

A bomba explodiu quando um ex-funcionário da Theranos decidiu denunciar. Ele revelou que a startup não conseguiu realizar testes precisos com equipamentos próprios. Assim, violando os regulamentos laboratoriais federais. Mas há mais: Edison precisa de pelo menos três frascos de sangue pequeno para realizar os testes propostos. Isso está longe das poucas gotas que prometeu. E mesmo assim, a máquina só conseguia realizar cerca de 15 exames. O restante dependia de equipamentos de outros fabricantes, como a Siemens.

A denúncia caiu como um meteoro na mídia. A startup rebateu as críticas dizendo que Edison fez mais de 15 testes. No entanto, não esclareceu quantos. Para piorar a situação, em janeiro, a agência Medicare descobriu erros nos testes. Testes que supostamente foram realizados pelo hardware de Edison que, novamente, ninguém jamais viu.

A fortuna de Holmes caiu para zero durante a noite

Theranos prometeu corrigir os testes, mas a essa altura era tarde demais; o FDA, o Ministério Público dos EUA e as agências estaduais de saúde começaram um intenso escrutínio da empresa e de seus dados até o momento, que eram basicamente vagos.

O mercado não perdoou. A Forbes reavaliou a Theranos, concluindo que a startup não valeria mais de US$ 800 milhões. Como as ações de Holmes não são preferenciais (na falência, os acionistas recebem suas ações antes dela), sua fortuna passou de US$ 4,5 bilhões para zero da noite para o dia.

A executiva tentou se defender o melhor que pôde. Ela estava acusando a mídia e as agências de uma caça às bruxas contra ela e sua criação. A verdade é que ela não apresentava resultados concretos desde o início da empresa, e era hora de justificar o investimento que havia recebido. No entanto, Elizabeth Holmes acreditava que era capaz de reconstruir a empresa. Ela prometeu voltar e criar a revolução que pregava. Mas o CMS não concordou. A agência decidiu banir Holmes da indústria. A decisão também se aplica aos funcionários da empresa.

A cultura do hype precisa morrer

Infelizmente, a história de Theranos e Holmes serve como um grande lembrete do perigo dessa “cultura do hype ”. Sem fragmentos de evidência, as pessoas facilmente pularam no movimento do hype promovido pela Theranos. Antes de descobrir a verdade, a mídia foi facilmente “vendida” por esse hype. Afinal, começou a promover a empresa e a criar Holmes como a próxima estrela.

Como podemos evitar ser absorvidos pelo hype da tecnologia promissora? Precisamos pegar algumas coisas que “parecem boas demais para ser verdade” sem um bom grão de sal.

Fonte/VIA:

Categories: IT Info